Ambliopia ou "olho preguiçoso"
- Dra. Alléxya Affonso
- 16 de set.
- 5 min de leitura

A Ambliopia ou "olho preguiçoso", é uma condição em que a visão fica reduzida mesmo após correção com óculos ou lentes de contato. Também pode ser conhecida pelos pacientes como “visão preguiçosa”.
Essa redução da acuidade visual pode afetar apenas um olho (ambliopia unilateral) ou os dois (ambliopia bilateral). Do ponto de vista clínico, considera-se que há ambliopia quando a diferença de visão entre os olhos é de pelo menos duas linhas em uma tabela de acuidade visual.
A gravidade pode variar de leve a profunda, podendo, em casos mais severos e não tratados, levar até à cegueira.
O que é ambliopia?
Para entender melhor, é importante lembrar como o sistema visual se desenvolve. Os olhos captam as imagens e as transformam em estímulos elétricos que são enviados ao cérebro pelos nervos ópticos. É no córtex visual, localizado no lobo occipital, que essas informações são processadas.
A ambliopia surge quando o cérebro não recebe imagens claras e nítidas de ambos os olhos durante o período crítico de desenvolvimento visual da infância. Isso compromete a formação adequada das conexões visuais, resultando em baixa visão mesmo após correção óptica.
Nos primeiros 7 a 10 anos de vida, ocorre o desenvolvimento mais intenso da visão. Por isso, tratar a ambliopia nesse período é fundamental: quanto antes identificada e tratada, maiores as chances de recuperação visual. Se não corrigida nessa fase, pode gerar danos permanentes.
Em muitos casos, o olho aparenta ser “normal”, mas o cérebro favorece o uso do olho de melhor visão, “desligando” parcialmente o outro.
É importante diferenciar a ambliopia funcional, que é reversível se tratada cedo, da ambliopia orgânica, causada por alterações estruturais do olho ou do sistema nervoso central e que não melhora com tratamento.
Ambliopia em crianças e adultos

A ambliopia infantil é a forma mais comum, geralmente detectada na infância ou até mesmo ao nascimento (ambliopia congênita). Normalmente afeta apenas um olho, mas pode comprometer ambos.
Já a ambliopia no adulto pode ser consequência de problemas visuais não tratados na infância ou surgir devido a doenças oculares adquiridas mais tarde. Embora menos comum nessa fase da vida, o impacto visual pode ser significativo.
Diagnóstico da ambliopia
O diagnóstico é realizado pelo oftalmologista, por meio de exames como:
Teste de acuidade visual;
Exame de fundo de olho;
Avaliação de alinhamento ocular;
Exames complementares, quando necessários.
Em crianças pequenas (abaixo de 3 a 4 anos), que ainda não colaboram com a tabela de acuidade, sinais indiretos podem indicar o problema, por exemplo, quando a criança reage mal ao tampar o olho saudável, sugerindo que o outro tem visão reduzida.
Por isso, a primeira consulta oftalmológica deve ser feita ainda no primeiro ano de vida, para detectar precocemente alterações que possam causar ambliopia.
As principais formas de ambliopia são:
Ambliopia estrábica
É a forma mais frequente e ocorre quando há estrabismo (desalinhamento ocular). Para evitar a visão dupla, o cérebro ignora a imagem do olho desviado, o que leva à perda de estímulo visual.
Pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum na infância.
Estrabismos podem ser convergentes (olho desvia para dentro), divergentes (para fora) ou verticais (para cima ou para baixo).
O diagnóstico e tratamento precoce são fundamentais para prevenir perda visual permanente.
Ambliopia anisometrópica
Surge quando há diferença significativa de grau entre os dois olhos (anisometropia). Um olho pode ser míope, hipermétrope ou astigmata, enquanto o outro não.
O cérebro “aprende” a usar o olho de melhor visão, negligenciando o outro.
Muitas vezes passa despercebida, pois a criança enxerga bem com o olho dominante.
Só pode ser detectada com exame oftalmológico completo.
Ambliopia ametropia
Ocorre quando há graus elevados de erro refrativo em ambos os olhos (como miopia ou hipermetropia altas) não corrigidos. Isso impede a formação de imagens nítidas e compromete o desenvolvimento da visão.
Ambliopia por privação (ex anopsia)
Decorre de obstruções que impedem a entrada da luz no olho, como catarata congênita, leucomas corneanos, ptose palpebral (pálpebra caída), hemorragias ou opacidades vítreas.
É mais rara, mas geralmente mais grave.
Requer tratamento rápido para evitar danos irreversíveis.
Outras causas
Ambliopia tóxica: relacionada a substâncias como álcool e tabaco (ambliopia tabágica).• Ambliopia histérica: alteração da visão sem causa orgânica identificável, geralmente de origem psicogênica.
Sintomas da ambliopia
Os sinais podem variar conforme a gravidade e a idade:
Visão turva ou embaçada;
Dificuldade para perceber detalhes;
Inclinar ou virar a cabeça para enxergar;
Aproximar-se demais de objetos ou telas;
Olhos desalinhados (estrabismo).
Nas crianças, os sintomas podem ser sutis. Muitas vezes, a visão normal de um olho “mascara” a limitação do outro. Por isso, os pais devem ficar atentos a sinais como semicerrar os olhos, postura inadequada ao ler ou assistir televisão e queixas de dificuldade escolar.
A ambliopia tem cura?
A ambliopia pode ser tratada e revertida, desde que diagnosticada precocemente, preferencialmente durante a infância. Após determinada idade, a plasticidade cerebral diminui e as chances de recuperação total ficam mais limitadas.
Tratamento da ambliopia
O tratamento depende da causa e pode incluir:
Correção óptica: uso de óculos ou lentes de contato para corrigir erros refrativos.
Tratamento do estrabismo: óculos, cirurgia ou ambos, dependendo do caso.
Tampão ocular (oclusor): cobre o olho com visão normal, estimulando o uso do olho fraco.
Colírios penalizadores: desfocam o olho saudável, obrigando o uso do olho amblíope.
Cirurgia: indicada em casos específicos, como catarata congênita ou estrabismo grave.
A colaboração dos pais é essencial, especialmente no uso do tampão ou colírios, que muitas vezes geram resistência da criança. Incentivar atividades visuais prazerosas (como leitura, pintura e jogos educativos) durante o tratamento pode melhorar os resultados.
No caso da ambliopia de privação, o tratamento passa pela restituição da transparência dos meios óticos, de modo a permitir que uma imagem tão clara quanto possível chegue até à retina.
No caso da catarata congénita, a cirurgia para a remoção da catarata deve ser efetuada o mais precocemente possível. O diagnóstico e tratamento da catarata congénita devem ser céleres, de modo a evitar a ambliopia e possível cegueira.
Antigamente, acreditava-se que tratar a ambliopia em crianças mais velhas, adolescentes e jovens traria poucos benefícios. No entanto, o tratamento tardio em muitas situações e dependendo naturalmente das causas da ambliopia tem revelado alguns resultados positivos.
Alguns estudos mostram que crianças entre os 7 e os 17 anos de idade beneficiaram de tratamento para ambliopia, ou seja, a idade por si só não deve ser usada como um fator para decidir se deve ou não tratar a ambliopia. De notar, no entanto, que nos primeiros 7 a 10 anos de vida, o sistema visual desenvolve-se rapidamente, pelo que se a intervenção não for precoce podem suceder danos irreversíveis na visão. Indiscutivelmente quanto mais cedo forem instituídos os tratamentos mais hipóteses há de sucesso de modo a evitar a perda de visão irreversível ou cegueira.
O tratamento da ambliopia em adultos, depois dos 20 anos de idade, tem habitualmente pouco sucesso.
Quando existe ambliopia irreversível apenas num olho e uma boa visão no outro olho podem ser tomadas medidas para salvaguardar o olho com boa visão, como por exemplo, usar óculos de segurança como na prática de desportos de contacto para proteger o olho normal de uma lesão. Enquanto o “olho bom” permanece saudável, estes doentes podem levar, na maioria dos casos, uma vida perfeitamente normal.
👉 Conclusão: a ambliopia é uma condição tratável, mas que exige diagnóstico precoce e adesão ao tratamento. Consultas regulares com o oftalmologista são fundamentais para garantir o desenvolvimento saudável da visão desde a infância.